Em sessão solene proposta pelo deputado Neodi Carlos (PSDC), a Assembleia Legislativa homenageou na manhã desta quarta-feira (9) o Centro Espírita Beneficente União do Vegetal (UDV), que no último dia 22 de julho comemorou seus 50 anos. O parlamentar explicou que tomou conhecimento da sociedade assim que chegou em Machadinho do Oeste, em 1985, tendo constatado diversos casos de recuperação de usuários de drogas.
De acordo com o deputado Neodi, algumas vezes a UDV é mal interpretada, mas isso está sendo esclarecido à sociedade. “Há poucos dias a importância da União do Vegetal foi reconhecida pela Câmara dos Deputados, em Brasília, e também por Câmaras de Vereadores, como a de Machadinho do Oeste. O importante é que o Deus que os sócios da União seguem é o mesmo dos evangélicos e dos católicos”, destacou.
Logo após o pronunciamento do deputado Neodi, foi apresentado um vídeo explicando que o fundador da UDV é o mestre José Gabriel da Costa, que se encontrou com o Vegetal no dia primeiro de abril de 1959, no seringal, para onde tinha ido trabalhar como soldado da borracha. Inicialmente ele participava dos rituais com sua família, mas depois começou a ter alguns discípulos. Assim mestre Gabriel fundou a União do Vegetal em 1961 e mudou-se para Porto Velho onde se estabeleceu.
Na sessão solene foi detalhada a organização da UDV, que conta com 150 núcleos e aproximadamente 15 mil sócios no Brasil e no exterior. Os núcleos localizados na Capital de Rondônia, em Candeias do Jamari e em Guajará-Mirim fazem parte da Primeira Região. Cada núcleo é dirigido por um mestre representante e também há um responsável para cada região.
O mestre central da Primeira Região, Mário Rodrigues Filho, prestou um agradecimento aos deputados, principalmente a Neodi Carlos, Ribamar Araújo (PT) e Adelino Follador (DEM), que participaram da sessão solene. A deputada Epifânia Barbosa (PT) encaminhou justificativa à Mesa explicando que não compareceu porque está em Rolim de Moura, onde acontece a sessão itinerante nesta quinta-feira (10).
Mestre Mário Filho, de 55 anos de idade, disse que bebeu o Vegetal pela primeira vez em 1976. Segundo ele, a sessão solene foi importante para que a direção da UDV pudesse explicar a história, os objetivos da sociedade e também o funcionamento dos departamentos médico e científico, de beneficência e de ensino religioso voltado a crianças e adolescentes, conduzido pela doutora em psicologia, Ana Maria de Lima Souza.
Ele acrescentou que, como em toda sociedade, na União do Vegetal não existe nenhum sócio que seja perfeito. “Estamos em busca da perfeição. Quando alguém comete uma atitude que esteja em desacordo com a legislação brasileira ou com nossa prática religiosa, existe a correção. Para isso temos o Quadro de Mestres”, detalhou Mário Filho.
Na tribuna, o mestre Raimundo Carneiro Braga, de 82 anos, disse que a UDV ensina a prática do bem e trabalha pelo desenvolvimento moral e espiritual do ser humano. “Não posso dizer que os sócios são santos, mas nosso objetivo é chegar nesse lugar. Nós queremos ver a paz no mundo e para isso desenvolvemos esse trabalho”, destacou.
Mestre Braga é o sócio número 3 da UDV. Ele conta que bebeu o Vegetal pela primeira vez no final de junho de 1965 e que aconteceu uma transformação em sua vida. “Desde então, dei as mãos ao mestre Gabriel, fundador da nossa sociedade, para trabalhar pela União, coisa que faço até hoje porque o que eu mais quero é ver essa obra crescer”, enfatizou.
Os dirigentes da UDV não recebem salário. Mestre Braga contou que inicialmente foi constituída uma associação, para que os discípulos pudessem ajudar o mestre Gabriel com as despesas do preparo do Vegetal. Naquela época a União só existia na residência do fundador, que era chamada de sede, já que ele cedia uma parte dela para a realização do ritual religioso.
A viúva do mestre Gabriel, Raimunda Ferreira da Costa, a mestre Pequenina, entregou ao deputado Neodi a bandeira da União do Vegetal. O parlamentar a recebeu, citando que suas cores são as mesmas que aparecem na bandeira brasileira. Em seguida ela explicou que o símbolo da União é luz, paz e amor, e que todos os que chegam são aceitos indistintamente.
“Com luz na consciência temos paz e podemos sentir o amor de Deus. Assim a União do Vegetal vem se estendendo pelo mundo”, explicou mestre Pequenina. Ela contou que tem acompanhado o crescimento da sociedade, que começou em sua residência, em um seringal, onde a família passou por algumas dificuldades.
“Esses dias mesmo perguntei a dois médicos que são sócios, como se sabe qual o tipo de sangue de uma pessoa. Eles me explicaram que é preciso fazer um exame. Acontece que no seringal não havia nem médico nem exame, e uma vez meu filho Getúlio Gabriel precisou de uma transfusão de sangue”, contou mestre Pequenina.
Sem médico por perto, mestre Gabriel precisou resolver a situação. Olhou na íris do filho Getúlio e depois examinou os olhos de diversos seringueiros. Selecionou dois deles para uma transfusão. Posteriormente, após levar Getúlio ao hospital foi constatado que o tipo de sangue era O+. Mais tarde os dois seringueiros também foram a um hospital, constatando que também tinha sangue O+.
O mestre Jair Gabriel, de 61 anos, explicou que percebeu logo no começo que a UDV cresceria muito. Ele é filho do mestre Gabriel e participou da sessão que aconteceu no dia primeiro de abril de 1959. Na ocasião ele reconheceu que seu pai não era como as outras pessoas.
“Hoje temos núcleos no Brasil inteiro e trabalho para que a União do Vegetal não perca suas raízes”, detalhou mestre Jair. Ele disse que a UDV nasceu dentro da simplicidade, em uma casa onde o vizinho mais próximo morava “a duas horas de distância”. “Naquela época papai dizia que a União iria dominar o mundo pela paz, coisa que para aquela gente simples não tinha cabimento. Hoje a sociedade já está em diversos países”, acrescentou.
O representante da UDV para relações institucionais, mestre Edson Lodi, explicou que a sociedade enfrentou alguns problemas. Um deles foi nos Estados Unidos, durante o governo Bush, que proibiu a utilização do chá Hoasca nos rituais religiosos. A União do Vegetal recorreu à Justiça e o caso foi julgado pela Suprema Corte Norte Americana.
Em 2008 a Suprema Corte autorizou a utilização do chá Hoasca em rituais religiosos, após estudos científicos conduzidos por universidades norte americanas constatarem que o líquido é inofensivo à saúde. Na decisão, a UDV foi citada como “uma religião sincera”.
Também foi dada uma explicação sobre os componentes químicos que constam no cipó mariri (Banisteriopsis caapi) e nas folhas do arbusto chacrona (Psichotria viridis), utilizados no preparo do Vegetal. A substância monoamina oxidase, presente no mariri, neutraliza por alguns momentos a reação do organismo à dimetiltriptamina (DMT), que passa a circular no organismo. Assim, o chá gera um efeito.
Houve alguns problemas quando a DMT foi classificada como proscrita, até que estudos científicos comprovaram que essa substância é produzida pelo organismo humano, mas em uma quantidade menor do que o total presente em um copo de Vegetal. A DMT aumenta a capacidade de assimilar informações. Isso derrubou os argumentos de que o chá poderia ser prejudicial à saúde.
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