O jornalista político Paulo Queiroz, do jornal O Estadão do Norte, faz uma avaliação do cenário político do Estado para a sucessão de 2010. Ele aponta o deputado Neodi como um dos pretensos candidatos à sucessão do governador Ivo Cassol. Leia a coluna na íntegra:
Política em Três Tempos NEODI NA RAIA
Ações de Edgar do Boi indicam que Neodi pode ser o candidato de Cassol na sucessão
1 – NEODI NA RAIA
Em que importe da sua parte ainda não ter sido ouvida palavra sobre o assunto, outro político que em 2010 deverá estar pronto para decolar objetivando aterrissagem numa plataforma mais elevada do que a que atualmente habita é o deputado Neodi Oliveira (PSDC), presidente da Assembléia Legislativa de Rondônia (ALE-RO). Não descartada, na mais resignada das hipóteses, a candidatura à reeleição, o Palácio Presidente Vargas, no entanto, parece ser o limite. Isto é, pelo menos, o que se pode depreender de cerca de dois anos de um trabalho pertinaz, da atual movimentação e, principalmente, das reticências do empresário Edgar Nilo Tonial – ou “Edgar do Boi”, codinome pelo qual o dirigente terminou notabilizado ao disputar o governo em 2006.
Atual presidente estadual do PSDC e seu vice-presidente regional Norte (eleito em janeiro) pelo próximo quatriênio, um exame menos superficial da sua trajetória revela que Edgar do Boi começou arregaçar as mangas mesmo para valer, no sentido de investir na construção do partido, de uns dois anos para cá, coincidentemente, depois que a ALE elegeu Neodi presidente da instituição. Até então a agremiação vinha sendo dirigida pelo funcionário público Gilmar de Freitas, sob cuja presidência o PSDC chegou ao final do primeiro semestre de 2007 (quando Edgar do Boi assumiu a direção estadual) organizado em Porto Velho e em não mais do que outros dois municípios.
Pois bem. Cerca de um ano depois a legenda não apenas estava presente em todos os 52 municípios rondonienses como apresentou candidaturas para disputar a Prefeitura em 47 deles. Aos três vereadores com que terminou a legislatura anterior acrescentou outros 30 para cumprir mandatos na legislatura em curso, elegendo em 2008 dois prefeitos, cinco vices-prefeitos e 33 representantes em mais de uma dezena de câmaras municipais. Convenhamos, um esforço extraordinário – algo que só pode ser entendido como parte de um projeto maior, mas já organizado em torno de uma aposta fundante.
2 – CARTA OCULTA Salvo melhor juízo, até porque o começo desse trabalho frenético para estruturar completamente o partido coincide com o início do esforço da Presidência da ALE na recuperação do órgão, Edgar, induzido ou movido à clarividência, terá enxergado em Neodi a pedra de toque a partir da qual valeria a pena montar um diagrama político para o que der e vier. Ou seja, para o dirigente da social democracia cristã no pedaço, a notoriedade alcançada por Neodi - e não apenas pela simples condição de Chefe do Legislativo rondoniense, mas, sobretudo, pelo papel desempenhado na liderança da recuperação do Poder - seria o principal capital político do partido.
Assim, o que Edgar talvez esteja enxergando é a resposta para uma questão que vem intrigando a totalidade dos analistas políticos locais – aquela segundo a qual o governador Ivo Cassol estaria escondendo uma carta na manga no que diz respeito à candidatura oficial para disputar a sua sucessão. Não é preciso ter dons oraculares para encontrar um sentido nisso.
O que ninguém parece estar reparando é que Cassol não tem descuidado de investir em Neodi, participando de todas as iniciativas que possam contribuir para conferir ao Presidente da ALE um papel angular, sob cuja liderança se operou a recuperação de uma instituição delinquentemente conspurcada por uma sucessão de episódios escabrosos.
Para ficar apenas em um exemplo, citem-se as seguidas devoluções de recursos ao erário, uma estratégia cujos propósitos não poderiam ser mais claros - contrapor a antiga ALE à atual –, levando a população a observar que, enquanto da primeira restou uma imagem de perdularismo e pilhagem, nesta o que está sendo construído é um perfil de parcimônia e responsabilidade. As devoluções, sempre procedidas em sessões especiais da Casa com a participação de Cassol, visam atender plenamente a esses desígnios.
Em que pese o ruído produzido por uma entrevista recente do presidente do PSDB, Hamilton Casara, no programa “Hora do Povo”, do radialista Arimar Sá.
3 – APOSTA ELEVADA
Abrindo um parêntese, difícil não admitir que a operação passa a mensagem imediata de zelo com o bem público, na medida em que o que se vê é a destinação de recursos economizados para fins coletivos mais abrangentes. Mas por conta da fermentação em torno da declaração de Casara – destacando a eventual imperícia orçamentária que o procedimento poderia sugerir -, até uma publicidade sobre o tema na TV teria sido retirada do ar. O poderá ter sido uma bobagem.
Salvo eventuais descaminhos – de que não se tem notícia, mas mesmo aí o problema já estaria no âmbito do Executivo, para onde o numerário foi devolvido -, o episódio pode até ser trabalhado de forma incômoda por um polemista competente, mas é imprestável para alimentar proselitismos políticos adversos consistentes, porquanto estão absolutamente ausentes quaisquer condutas moralmente reprováveis.
Fechando o parêntese, se, para qualquer pessoa, não chega a ser difícil perceber o quanto é robusto o interesse do governador no fortalecimento político de Neodi – algo evidente quando se recorda o empenho e a satisfação de Cassol na eleição e reeleição do deputado à Presidência do Legislativo -, menos complicado ainda é concluir que isso atende a um propósito maior, na mais óbvia das hipóteses, o de conferir a Neodi um papel de liderança junto ao grupo político com o qual o governo conta para enfrentar os desafios eleitorais de 2010 objetivando a manutenção e ampliação do poder.
Se as costas do presidente do PSDC não estão tão quentes quanto é possível supor, ou seja, se Cassol não está por trás de tudo, a aposta do dirigente é pessoal e alta até dizer chega. Desde o início do ano Edgar do Boi está empenhado em apresentar Neodi pessoalmente a cada um dos 52 diretórios da legenda. Atividade tão intensa quanto antecipada só é explicável quando se almeja ocupar a candidatura mais importante do partido. Edgar, no entanto, é só reticências - até quando se quer saber se o PSDC terá candidato ao governo ano que vem. A ver.
Autor: Paulo Queiroz
Jornal: O Estadão do Norte
Em: 20.03.2009